Em releitura do imperdível para nós, alfabetizadores, "Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário", de Délia Lerner (2002), me deparei com os questionamentos da própria autora:
" O que se aprende quando se ouve o professor lendo?"
"Em que momento os sujeitos se apropriam da linguagem dos contos?"
Entre essas e outras perguntas, seguidas das reflexões da Délia, me veio à lembrança o diálogo:
"- Mãe, faz um chafariz aqui pra mim (fazendo referência a uma produção artística - desenho - de livre escolha)?
- Chafariz! Huumm, não sei desenhar bem um chafariz.
- Mãe, faz um igual àquele do Mico Leão!"
Nossa, o que Ana (5 anos de idade) estaria querendo me dizer? Que "raio" de Mico Leão era esse? E o que chafariz tinha a ver com o Mico Leão? Minha expressão facial falou por si só. E fora explendidamente interpretada pela pequena:
"- Mãe, você não lembra daquela história que você contou pra mim e para a Maria*, a do Mico Leão que adorava tomar banho no chafariz?"
Caramba, realmente eu havia contado essa história durante uma aula para Maria, aluna que frequentava a sala de Atendimento Educacional Especializado. Mas já se passara muito tempo. O ano letivo, inclusive, já havia virado.
Eu, de fato, não me recordei de imediato. Talvez pelo motivo da Ana ter participado do momento da Contação da história de forma incidental. Ela se quer devia estar ali. Não havia planejado contar para ela específicamente. Mas neste ponto exato entraríamos num outro assunto que geraria um bom tópico de discussão: a intencionalidade educativa ou o planejamento pedagógico.
Mas o que vale mesmo, diante dessa exposição é a ressignificação daquilo que fora apreendido por Ana. E ainda mais valerá se considerarmos a intencionalidade não direcionada a Ana, e sim a Maria.
A pequena, ao ter contato com a história que ouvira da sua mãe, ainda que não direcionada para ela específicamente, assimilou o seu conteúdo, se apropriou dos seus elementos, preservando-os em sua memória e os resgatou num momento posterior de criação artística, através do desenho, espontâneamente.
Creio que esta seja a maior contribuição que nós, professores podemos dar aos nossos alfabetizandos, que é a de oferecer elementos de criação.
Esses elementos, ressignificados, irão compor a história da pequena Ana em seu real processo de (re)construção da leitura e da escrita.
E nos voltamos à pergunta que gerou esta postagem:
O que se apreende quando se ouve o professor lendo?
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(*) Identidade preservada.
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(*) Identidade preservada.
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